terça-feira, 18 de novembro de 2014

FILME: AUGUSTINE - 2012


Direção: Alice Winocour - 2012
Duração: 102 min 

Um filme sobre Charcot e a histeria. - 1885 

É bem conhecido o quadro retratando Charcot e seus histéricos na Salpêtriere. Foi onde Freud que foi seu aluno começou a questionar que nem tudo era físico, neurológico e que havia somatização, e que aquilo não era uma farsa ou chilique de mulheres.

O que caracteriza a crise histérica é o arco, a insensibilidade no corpo. Mas o que provoca isto? Foi o que Charcot buscava descobrir e mostrar que era real e que poderia ser curado pela hipnose.

Augustine (Stéphanie Sokolinski)  é uma jovem de 19 anos que sofre ataques histéricos, e acaba colaborando com Charcot ( Vincent Lindon) para as demonstrações aos pares para que fosse possível demonstrar que não se tratava de uma farsa. Outra versão afirmava que eram ataques demoníacos, que a pessoa estava possuída.

Augustine se cura ao final, mas Charcot tem uma relação sexual rápida com ela ao final. Fiquei me perguntando o por que desta cena, seria por que retrata o desejo, a insatisfação sexual, e significa justamente o aspecto da sexualidade da histeria? ou estamos diante do que ocorre na vida, um homem com poder, rico, famoso e uma jovem bonita e um corpo bem feito?

Gostei, Alice Winocour retira a áurea imaculada e nos mostra corajosamente o que de fato deveria ocorrer nestes hospitais.

Assisti na Toca dos Cinéfilos: http://tocadoscinefilos.net.br/augustine-2012/





 Lição clínica em La Salpêtriere - 1887 - Pierre Andre Brouillet - encontra-se no Museu da História da Medicina - Universidade Descartes - Paris

Jean-Martin Charcot nasceu em 29 de novembro de 1825 em Paris, França e faleceu em 16 de agosto de 1893 em Lac des Settons, França. Alcançou a fama com a psiquiatria e seu estudo sobre a histeria a qual buscava tratar através da hipnose. Sigmund Freud foi um dos seus alunos. 


Alice Winocour nasceu em 13 de Janeiro de 1976 em Paris, França. 



LIVRO: UMA TEMPORADA COM LACAN - PIERRE REY



Companhia de Freud, 1989
Tradução: Sieni Maria Campos
159 páginas.

RELATO DE UMA ANÁLISE

Pierre Rey passa uma temporada com Lacan, de 10 anos. Empreende uma viagem sem volta, atravessa e se reencontra do outro lado. Após passado um tempo escreve este livro sobre este momento crucial em sua vida que lhe possibilitou viver de acordo com seu desejo.

Rey estava perdido em seu gozo, cedendo ao seu desejo. Vivia cheio de dívidas e ganhava seu sustento escrevendo crônicas para um jornal. Lacan o deixa em pânico com a questão financeira de pagar as sessões. Ele precisa arrumar uma forma de pagar, Lacan é uma obsessão. Escreve um livro e consegue o dinheiro. 

Este livro não é o que ocorre com este aqui, seu relato sobre a análise, aqui a escrita se impõe, é o desejo, e não a necessidade da demanda. 

O que este relato nos mostra é o difícil processo de abrir mão do gozo para não ceder ao seu desejo, uma questão fundamental no mundo em que vivemos hoje, onde prevalece o gozo incentivado pelo consumismo. 

Pierre Rey nasceu em 27 de abril de 1930 em Courthezon e faleceu em 22 de julho de 2006 em Paris, França

FILME: FRANÇOISE DOLTO, PELO AMOR DAS CRIANÇAS - 2008



Direção: Serge Le Péron - 2008
Duração: 98 min 
Título original: Françoise Dolto, le désir de vivre 

Assisti o filme em francês, seu título é Françoise Dolto, le désir de vivre , o desejo de viver.

Belíssima homenagem e biografia desta mulher que revolucionou a psicanálise infantil.

Através de dois casos de crianças traumatizadas pela guerra, o filme retrata seu trabalho. É a época do começo, ainda no hospital onde o diretor instigado por uma enfermeira fica irritado com seu trabalho até que percebe uma cura. Anos mais tarde já é a Dolto (Josiane Balasko)  que conhecemos.
Uma das crianças traumatizadas retorna já adulto para falar o com ela e agradecer sua cura e então ela diz: o que te curou foi o teu desejo, é preciso desejar viver.

É este desejo que ela tenta devolver às crianças e o fez até sua morte.

Há uma cena terrível que me tocou muito. Uma criança entra no quarto onde a irmã está morta, quer vê-la e a mãe a impede alegando que foi por sua culpa que a irmã está morta, pois ela não rezou como devia, o quanto seria necessário, pois Deus a teria ouvido se o fizesse corretamente, e por isto sua irmã morreu.
Pensem na carga de culpa que esta criança acaba de receber e o que isto trará para sua vida. As vezes os pais dizem coisas que são terríveis. Mas o mais inacreditável é que isto aconteceu com a própria Dolto. Na morte de sua irmã Jaqueline lhe disseram que teriam preferido que ela morresse ao invés da irmã, e que foi por culpa sua uma vez que não rezou o suficiente. Este fato foi a causa do desejo de Françoise de se tornar psicanalista mais tarde. 

Um dos meninos, o que ela curou, ouviu quanto tinha em torno de 2 a 3 anos as pessoas chamarem sua mãe de puta e rirem e denegri-la. O outro culpa o pai por ter obrigado sua mãe a levar no carrinho de bebê, embaixo dele, armas para a resistência. Ela acaba presa e morreu num campo de concentração. Ele sonha com isto, com o rosto da mãe enquanto os homens colocavam as armas e diz que eles não se importavam com ele, o bebê.

Por outro lado, há uma cena onde seu filho, de Dolto, reclama sua atenção e ela lhe diz: marque uma sessão! o pai, seu marido, faz de tudo para deixá-la trabalhar em paz afastando as crianças. O preço que se paga pela dedicação a algo? ou seria possível não ser assim?

O filme está no Youtube em francês: https://www.youtube.com/watch?v=CCXT2LQBQPU



Françoise Dolto nasceu em 06 de dezembro de 1908 em Paris, França e faleceu em 25 de agosto de 1988 na mesma cidade.
Françoise terá que lutar contra a mãe que não a queria doutora e deseja que ela case. Sua mãe acredita que a profissão de médica é antagônica com seu destino de se casar. Ela então aprendeu a costurar, mas depois de participar de um concurso de desenhos em cartazes, também foi proibida de continuar. Depois tentou a cerâmica, mas não lhe agradou passar a vida nisto, apesar de manter suas inclinações artísticas por toda sua vida. Em 1929 sua mãe permitiu que estudasse Enfermaria, esperando que desistisse de ser médica.

Dolto não desistiu e se formou em Medicina. O rompimento do noivado arranjado pelos pais lhe trará sintomas neuróticos e sentimentos de culpa, o que a levará a fazer análise com René Lafargue.

Serge Le Peron nasceu em 13 de maio de 1948 em Paris, França 



segunda-feira, 17 de novembro de 2014

CURSO ONLINE: HISTÓRIA DA ARTE II - ESCULTURA E PINTURA ESTRUSCAS: vitalismo e arte tumular

 INSTITUTO DE ARTES - UNESP

PROF. JOSÉ LEONARDO DO NASCIMENTO 
DEPTO. ARTES PLÁSTICAS

1. ESCULTURAS E PINTURA ETRUSCAS: VITALISMO E ARTE TUMULAR

A internet oferece muitos cursos online. Como costumo acompanhar alguns decidi trazê-los para o blog e procurando também acrescentar algo sobre o tema. 

Os etruscos são um povo que dominaram 2/3 da Península Itálica no séc. VI A.C. Suas cidades estados estavam localizadas entre os rios Arno e Tibre, na Etrúria,  local hoje conhecido como Toscana. 

Os dois últimos reis romanos foram etruscos: Tarquínio Prisco e Tarquínio o Soberbo. 

Sabe-se muito pouco sobre este povo, e o pouco que se sabe é devido aos gregos, mas que no fundo os desprezavam. 

Possuíam alfabeto, porém ainda não foi decifrado. As informações melhores sobre eles são as que se encontram nos túmulos. Os romanos destruíram todas suas cidades, mas não tocaram nos túmulos e em Tarquínia existe hoje 70 túmulos, ou casa túmulos, das quais apenas 30 são possíveis visitar. Estes túmulos são decorados, com afrescos, o que demonstra uma preocupação com a vida pós morte, como faziam os egípcios. 

O que se sabe é que na Etrúria a mulher tinha uma posição privilegiada. Eram alfabetizadas, o que se comprovou ao encontrarem espelhos de bronze com escritos na parte de trás. Os gregos diziam que os filhos sabiam quem era sua mãe, mas não sabiam quem era o pai, o que chocava os gregos que não tinham a mulher nesta posição de independência, sendo que eram submissas ao homem. Elas participavam dos banquetes, danças e em jogos ginásticos. Esta posição da mulher fez com que romanos e gregos considerassem a cultura etrusca como promíscua. 


casa túmulo 

Pintura Mural 

cabeças votivas em terracota 



Alfabeto

Arquitetura

Localização

DOCUMENTÁRIO: A HISTÓRIA DO MUNDO EM DUAS HORAS


Produção: History Channel 
Duração: 88 min

Este documentário faz um tour geral pela história de nosso planeta e do surgimento do ser humano e das civilizações, partindo do Big Bam há 14 bilhões de anos atrás, nos mostrando como se formaram as estrelas, galáxias e finalmente o planeta terra. 
O início da vida no planeta e de como se desenvolveu até chegar ao mundo de hoje. De onde vieram todas as possibilidades tecnológicas e também o surgimento do fogo. As invenções que tornaram possíveis a civilização que conhecemos hoje. 

Há um foco científico principalmente sobre as questões de energia e da tecnologia, desde a mais antiga até o mundo atual. 

Uma maneira rápida e interessante de recordar nossa história com um apanhado geral, mas acho que o documentário é bem vindo no sentido de nos trazer mais humildade e principalmente maior respeito por este planeta que é vivo e por tudo que há nele, desde os minerais, as plantas, animais até o ser humano. Quando acompanhamos todo este processo não há como não parar para pensar em quantas vezes o planeta sofreu mudanças radicais, e que várias formas de vidas foram extintas, e então, o que nos garante que não somos a próxima? 

A força, a energia que existe no universo se por um lado nos proporcionou a possibilidade de estar aqui também não deixa de ser algo que pode literalmente nos destruir. Não estamos zelando por nosso planeta o suficiente, e quando cooperamos por destruir camadas de ozônio, quando poluímos o ar com inúmeros componentes químicos, não estamos pensando nos efeitos disto. 

Por outro lado é muito bom ver de onde viemos, de simples bactérias, isto nos traz um pouco de humildade. Quando os nossos ancestrais viviam eles não imaginavam o viria a ser a terra no futuro ou o ser humano, e todas as possibilidades que ele teria, mas da mesma forma que os dinossauros também viviam dominando a terra, podemos acabar como eles. 

Claro, isto pode levar milhões de anos, mas não é impossível. Por mais tecnologia que temos não somos capazes de deter a natureza, e muitas vezes não somos capazes sequer de prever a tempo catástrofes como um tsunami ou até mesmo uma simples chuva de granizo. 

Assista: http://www.assistirfilmesantigos.net/history-channel-historia-mundo-em-duas-horas-dublado/

Veja o trailer: https://www.youtube.com/watch?v=r6MyE-YF90s




FILME: QUANDO NIETZSCHE CHOROU - 2007



Direção: Pinchas Perry - 2007
Duração: 105 min
Título original: When Nietzsche wept

Baseado no livro homônimo de Irvin D.Yalon. 

Como terminei de ler Nietzsche na Itália de Paolo D'Iorio, já postado, resolvi rever este filme que havia assistido já faz alguns anos, e também já li o livro no qual o filme é baseado.

É uma ficção, apesar de trazer alguns fatos reais, ele se baseia num encontro que nunca ocorreu entre o filósofo Nietzsche (Armand Assante) e o Dr. Joseph Breuer (Ben Cross) a pedido de Lou-Andreas Salomé (Katheryn Winnick).

Lou procura Breuer para ajudar Nietzsche pois este se encontra desesperado por ela não haver aceito seu pedido de casamento. Ouviu falar sobre a cura pela palavra no caso Anna O. ou Bertha (Michal Yannai). De início Breuer se recusa, mas acaba aceitando o desafio.

Breuer é casado com Mathilde (Joanna Pacula) e amigo do jovem Sigmund Freud (Jamie Elman) que acompanhou o caso de Bertha.

É um filme que vale a pena ser visto pois se desenvolverá uma relação terapêutica entre Breuer e Nietzsche, mas neste caso será o filósofo quem atuará como um psicanalista sobre a obsessão de Breuer por Bertha.  O plano inicial era que desta forma Nietzsche confiaria em Breuer e lentamente começaria a falar de si mesmo e de sua paixão por Salomé, mas no filme o que ocorre é o contrário, e quem acaba livre da obsessão é Breuer. Há passagens ótimas sobre a filosofia de Nietzsche que ele utiliza em suas sessões com Breuer. Freud um jovem aprendiz ainda acompanha tudo e acabará hipnotizando Breuer o que o fará ver a realidade.

Nietzsche exporá no filme o eterno retorno perguntando a Breuer se caso houvesse um demônio que fizesse com que tudo que nos acontece, sentimos, falamos, sempre se repetisse sem parar por toda eternidade, ou seja, voltaríamos sempre para reviver exatamente as mesmas coisas, o que ele pensava? seria bom reviver sua vida? E também falará que amamos muito mais o ato de desejar do que o objeto do desejo.

A filosofia e o embrião da psicanálise é real, e Yalon faz uma junção muito boa da filosofia de Nietzsche e da psicanálise, apesar de Freud sempre ter dito que não leu as obras do filósofo, há muitas coisas que são as mesmas, apenas faladas em linguagens diferentes.

Nietzsche realmente se apaixonou por Salomé que acabou ficando com seu amigo Paul Rée, e sofria de enxaquecas terríveis. Breuer protegia e ajudava Freud naquela época, e realmente estudaram juntos o caso de Ana O. e a histeria, que depois Freud irá publicar em um dos seus livros. Salomé sob a supervisão de Freud se tornará uma psicanalista.
Quando Mathilde descobriu que Anna O. dizia estar grávida de Breuer exigiu que ele encerasse o tratamento, o que ele fez, e partiram ambos em um segunda lua de mel da qual nasceu uma filha, que anos depois iria morrer assassinada pelos nazistas. Bertha se tornou uma assistente social reconhecida.

Assista: http://tocadoscinefilos.net.br/quando-nietzsche-chorou-2007/

Veja o trailer: https://www.youtube.com/watch?v=qGTGOpjcwsk


Pinchas Perry 

FILME: DIAS DE NIETZSCHE EM TURIM - 2001



Direção: Julio Bressane - 2001
Duração: 90 min 

Um filme nacional que retrata o período de 1988/1989 em que Nietzsche viveu em Turim, quando escreveu "Ecce Homo", "Crepúsculo dos deuses" e "O Anticristo".

O filme é um monólogo de Nietzsche (Fernando Eiras) que fala de seus pensamentos, escritos e filosofia. Durante suas caminhadas ele reflete sobre a sua vida e ideias. Trata-se do período que antecedeu seu colapso que depois o levaria a loucura o deixando como inútil durante 10 anos até sua morte.

Assista: http://www.youtube.com/watch?v=w3ylsyq7zzg

Assista ao trailer: https://www.youtube.com/watch?v=6vYtvljVDz4


Julio Bressane nasceu em 13 de fevereiro de 1946 no Rio de Janeiro

LIVRO: NIETZSCHE NA ITÁLIA - A viagem que mudou os rumos da Filosofia - PAOLO D'IORIO


D'Iorio, Paolo. 1ª ed. Zahar, 2014.
214 páginas
Tradução: Joana Angélica d'Avila Melo
Título Original: Le voyage de Nietzsche à Sorrente (Genèse de la philosophie de l'esprit libre)

No outono de 1876 Nietzsche parte para o Sul, na Itália, para passar um ano sabático à convite de sua amiga Malwida von Meysenburg acompanhado de seu amigo Paul Rée com quem rompera mais tarde por causa de Lou-Andreas Salomé. Outro amigo se junta a eles, Albert Brenner.

Esta viagem será o divisor de águas entre o que Nietzsche havia dito antes e o que passa então a pensar e escrever em seus livros, após o rompimento com Richard Wagner devido seu cristianismo. É o Nietzsche mais verdadeiro que aparece e o que ele realmente pensa e sente. Ele abandona a ideia wagneriana de renovar a cultura alemã que defendeu em "O nascimento da Tragédia".

Será em Sorrento que ele irá começar a escrever "Humano, demasiado humano" adotando a partir daí o aforismo como estilo de escrita. Nesta temporada também surgirá seus esboços para "Assim falava Zaratrusta" que é repleto de referências às experiências vividas e também aos lugares que mais impressionaram Nietzsche.

O livro é um relato desta viagem, mas também uma apresentação acessível da filosofia de Nietzsche e de como suas ideias amadureceram. Muitos dos que admiravam sua filosofia anterior romperam com ele, exceto sua amiga Malwida, que manteve intacta sua esperança que isto seria uma fase passageira e que ele retornaria a sua antiga filosofia, não se dando conta que foi justamente esta outra fase que foi uma passagem para a filosofia definitiva de Nietzsche.

Há passagens extremamente interessantes e explicativas, como a da Epifania que muito me interessou e também sobre os sinos.

Paolo D'Iorio nasceu em 24 de Setembro de 1963 em Seravezza, Italia. É filósofo, tendo se formado na Universidade de Pisa. Continuou seus estudos na École Normale Supérieure em Paris. É especialista em Nietzsche. 

FILME: RENOIR - 2012

Direção: Gilles Bourdos - 2012
Duração: 112 min 

Uma cinebiografia dos últimos anos de vida do pintor Renoir (Michel Bouquet)  em 1915 quando ele vive na Côte D'Azur, já sofrendo de muitas dores devido a artrite, junto ao seu filho mais jovem e o outro, Jean (Vincent Rottiers) ,  volta ferido da guerra.
O filme vai tratar de um último alento que ele sente quando Andrée ( Christa Theret) entra em sua vida como modelo, rejuvenescendo-o. Seu filho Jean irá se apaixonar por ela.

Mas como acabo de ver Séraphine, não pude deixar de observar algumas diferenças entre os dois que me chamaram a atenção. Renoir pinta o externo, o que ele vê, ele precisa do modelo ou da paisagem, mesmo que ao pintar ele não siga isto de forma objetiva, pelo contrário. Quando ele olha uma paisagem no filme vemos que ele vê tudo em cores, como se a vista estivesse nublada, ele vê o verde das plantas e árvores se misturando ao vermelho do vestido. Ele diz: a estrutura não é o desenho, são as cores.

Renoir gosta de pintar coisas bonitas, que dão prazer. De ruim já basta a vida. Iniciou a vida como pintor de porcelanas, e considera a pintura um métier, prática, não se considera um artista.

O que me tocou no filme, fora a vida de Renoir, é seu filho caçula, sozinho, tem ódio do pai e de tudo ali. Culpa o pai por se envolver com suas modelos e ter feito sua mãe sofrer. O filme não trabalha isto, deixa apenas entrever, mas é difícil para um filho viver sob a sombra de um pai grande e famoso e que faz da pintura sua vida.

Assisti na Toca dos Cinéfilos: http://tocadoscinefilos.net.br/renoir-2012/


Veja o trailer do filme



Pierre-Auguste Renoir nasceu em 25 de fevereiro de 1851 em Limoges, França e faleceu em 03 de dezembro de 1919 em Cagnes-sur-Mere, França. Foi um pintor francês impressionista. Trabalhou como  decorador de porcelanas em Paris. Aos 18 anos começou a pintar e decorar persianas e leques. Em 1862 foi estudar na Academia de Belas Artes.


Jovem com margaridas - Escolhi este quadro por gostar muito dele e ter uma reprodução em minha casa. 

O almoço dos barqueiros - 1880-81

Assista a um tour pelas suas obras: https://www.youtube.com/watch?v=dn8eSVABMc0



DOCUMENTÁRIO BBC - HUMANO, DEMASIADO HUMANO - JEAN-PAUL SARTRE - O CAMINHO PARA A LIBERDADE - 1999



III- JEAN-PAUL SARTRE - O CAMINHO PARA A LIBERDADE

Sartre diz: Nunca fomos tão livres como durante a ocupação alemã. Perdemos todos os direitos, a livre expressão, éramos insultados e tínhamos que nos calar, e é por isto que éramos livres. Enquanto o veneno alemão adoecia nossas mentes éramos constantemente vigiados, cada gesto que fazíamos era um compromisso.

A liberdade para Sartre era um senso fisiológico de liberdade de modo que a liberdade se incorporasse, se tornasse corpo.

Após a Segunda Guerra os valores do passado entraram em colapso. Sartre recusa tudo - casamento - família - filhos - religião e é feliz. Torna-se uma referência para as pessoas que buscavam algo novo naquele momento e já não podiam mais se referenciar nos valores antigos. 

Não é o passado que nos dirige, é o que nós fazemos, temos que assumir a responsabilidade por nossas ações e de um jeito novo. "Você tem não apenas o direito de escolher, mas também a culpa pela escolha."
"O que importa é o que você escolhe ser no futuro."

Tudo isto caia perfeitamente no momento que a Europa vivia após a guerra. Transformou-se numa esperança e possibilidade de reconstruir a vida e um futuro. Todos queriam esquecer a guerra, havia uma negação do que ocorreu, e poder negar o passado dentro desta filosofia da existência era perfeito.

Sartre nasceu em 1905 em uma família de classe média alta. A morte de seu pai e o ódio ao seu padrasto levou a criança precoce a se reinventar com uma personalidade desconectada de tudo ao seu redor. A morte do pai o livrou de ter um modelo e ele teve que inventar um. 
Quando lhe tiraram as roupas de bebê descobriu-se diferente no espelho. Era feio e o pior, descobriu que as pessoas não mais reagiam a ele como antes. Diante disto seu cérebro passa a valer ouro.

Foi estudar na Ecole Normale Supérieure em Paris onde conhece Simone de Beauvoir. 

Foi professor e interessou-se pela fenomenologia. Em 1933 foi estudar em Berlim com Edmund Husserl. 

Estar consciente de algo é ter relação com algo no mundo, de modo que relacione este algo a uma representação mental. Ele pensou sobre a autoconsciência como uma ideia que temos do mundo. A ideia que nós temos do EU como um caráter essencialmente como de fato é. Não há caráter predeterminado que faz com que você seja quem você é. Você é aquilo que você está tentando fazer. 

Amava o cinema, principalmente filmes de suspense. À diferença dos personagens, lá fora não há roteiro. Escreve o artigo " A contingência da existência" e o romance "A náusea" - a falta de sentido na existência. 

O fato que a vida não tem sentido é o que nos dá a oportunidade de lhe dar um significado. Por não ter significado anterior é que estamos justificados ao criar um. 

Escreve sua principal obra - "O ser e o nada" com influência de Martin Heidegger. 

Foi como prisioneiro de guerra que percebeu que sua filosofia era individualista e precisava relacioná-la ao social. 
Após a guerra fundou a revista Tempos Modernos, deu uma conferência - "Existencialismo é um humanismo". Publicou "Os caminhos da liberdade" e estreou a peça "Entre quatro paredes". 

Foi acusado pela mídia por suas ideias ateístas corromperem os jovens, como um Sócrates. Ele dizia que se Deus existe o homem não é livre. Eu sou a minha liberdade. 

Isolou-se indo morar com a mãe na Rue Bonaparte. 

Da infância em diante era alguém que sofria quando não podia ter o controle da imagem que os outros formavam dele. Isto era para ele o inferno. Era profundamente aflitivo quando pensava sobre o que os outros pensavam quando olhavam para ele. A aprovação. O olhar eterno sobre ele das outras pessoas, sentiu a existência real da vergonha. Parou de pensar no "EU" como um objeto único. Constrói uma ideia de "NÓS" como um outro mundo. Como uma entidade como o "EU" surge? Isto implica que não é possível as pessoas sentirem-se confortáveis umas com a outras. É impossível pensar em vários "EUs" simultanemente. O seu "EU" sempre será um objeto para o outro observador. Todo "EU" está sempre em conflito. Não podemos escapar destes jogos terríveis das pessoas conosco o tempo todo. 

Ao perceber nas pessoas as semelhanças, o uso dos mesmos códigos, isto vai contra o "isto é milha escolha." "EU" prefiro fazer isto. Exagero de liberdade. É a destruição dos outros valores, sob os quais vivemos a maior parte do tempo. 

Um mundo existencialista em que tomamos decisões por nós mesmos seria um mundo socialista em que todos nós nos trataríamos como iguais, mas é difícil ver se este não seria um mundo de maníacos tratando-se da mesma maneira. 

Em 1964 ganhou o prêmio Nobel, mas recusou-o. Não quer ser inserido no sistema. Pensa que se foi escolhido é porque agora o sistema o aceita, e se coloca contra isto. 

Como ele concebe a liberdade sempre fora uma fantasia, mas se tornou claro que a liberdade individual não existe. 

"Eu penso contra eu mesmo. Contra tudo que lhe foi inculcado pela educação. Você tem que criticar tudo o que foi "dado" à você.

Faleceu em 19 de abril de 1980. 

Participaram deste documentário:

- Bernard- Henry Levy - Filósofo
- Annie Cohen-Solal - Biógrafa
- Michele Vian - Amiga
- Jonathan Rée - Filósofo
- Ronald Hayman - Biógrafo
- Baroness Mary Warnock - Filósofa
- Olivier Todd - Escritor
- Patrick Vauday - Filósofo
- Jean Pouillon - Amigo
- Michel Contat - Amigo
- Mary Warnock - Filósofa

Parte 1: https://www.youtube.com/watch?v=jDHnW6U0Tk4
Parte 2: https://www.youtube.com/watch?v=ts-fcq6ZNHk
Parte 3: https://www.youtube.com/watch?v=8Hu2mW20pes
Parte 4: https://www.youtube.com/watch?v=rHeUm5W00mY&spfreload=10



sábado, 15 de novembro de 2014

FILME: OS AMANTES DO CAFE FLORE - 2006


Direção: IIan Duran Cohen - 2006
Duração: 104 min 
Título original: Les amants du Flore

Sartre e Simone de Beauvoir.

Como já li toda a autobiografia de Simone, me vi diante da condensação de tudo isto. Toca em pontos principais e foca a relação dos dois. Há aspectos que são diferentes em seus livros que os retratados no filme.

Simone (Anna Mouglalis) é muito conhecida pelo O Segundo Sexo, e considerada feminista, mas eu me pergunto muitas vezes até onde foi esta tão alardeada liberdade? ou até que ponto ela se submetia muitas vezes aos caprichos de Sartre? Um amor absoluto e os outros contingentes. Sim, na teoria isto é maravilhoso, mas viver isto?
Ela sentiu desejo de se casar com Algren (Kal Weber), ter uma família, este homem que a amou e não tinha medo disto. Sartre deslizava.

Sartre (Lorànt Deutsch)  nunca deixou de ser um pequeno burgues, e dizia que Simone pensava como um homem. Mas ela vivia na sua sombra, mesmo com toda sua inteligência e saberes. Entendiam-se, é óbvio, não sabiam viver um sem o outro, precisavam-se, mas ela pagou um preço altíssimo pelo que chamou de liberdade.

Sartre e Beauvoir foram considerados exemplos do casal com liberdade. Tornaram-se um mito e muitos tentaram emitir este tipo de relacionamento. Mas será que funciona? 

Mas continuo admirando-a profundamente. Ela foi um modelo para mim em minha juventude. Eu dizia que gostava do existencialismo sob a ótica de Simone.

Assista ao filme legendado: http://www.youtube.com/watch?v=556Em7Z6Nl8

Ilan Duran Cohen nasceu em 1963 na França. 

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

DOCUMENTÁRIO BBC: HUMANO, DEMASIADO HUMANO - MARTIN HEIDEGGER - PENSAR O IMPENSÁVEL - 1999




II - Martin Heidegger - Pensar o impensável 

"Aquele que pensa grande amiúde comete grandes erros".


Martin Heidegger nasceu em 1889 em Messkirch onde também está sepultado. Foi um filosofo simultaneamente muito admirado e execrado. Admirado pela sua mente brilhante e sua produção intelectual, execrado por seu lado político, aderindo ao nacional-socialismo e se tornando um nazista fanático. 

Foi somente após sua morte que surgiram documentos que se tivessem aparecido antes não teriam possibilitado seu retorno ao lugar de professor de filosofia na Universidade, sem contar que teria que ter respondido pelo o que fez. Que ele pensasse que Hitler era a salvação da Alemanha, isto a maioria dos alemães pensaram, mas o que não se aceita é que depois de todos saberem do Holocausto foi ele declarar que nunca teve nada a ver com isto e que nada tinha a dizer ou algo do tipo. Morreu sem pronunciar uma palavra sobre isto, sem dizer que errou, ou qualquer outra menção. 

Seus pais eram camponeses, mas viviam bem. Seu pai era sacristão e ele foi coroinha e antes dos 10 anos decidiu que queria ser padre. Em 1909 após terminar a escola secundária custeado a maior parte pela igreja católica, inscreveu-se na Universidade de Freiburg. Iniciou seus estudos em teologia católica, mas foi perdendo a fé, mudou para matemática e finalmente para filosofia influenciado por um professor que admirava - Edmund Husserl - que iniciou a fenomenologia que oferecia uma nova maneira de entender a consciência humana. Husserl tomou Heidegger sob sua proteção e muito fez para incentivar e possibilitar sua carreira, ao que seria retribuído de forma cruel por seu discípulo durante a Segunda Guerra. 

Na Primeira Guerra Heidegger muito se gabou, mas na verdade ele evitou o front, mantendo-se sempre atrás. Durante a guerra casou-se com Elfriede Petri com quem teve dois filhos. Em 1923 mudaram-se para Marburg no centro da Alemanha onde Husserl havia ajudado a encontrar um lugar como professor de filosofia. Ele nunca se acostumou ao lugar e sempre voltava à floresta negra onde construiu ele mesmo uma cabana de madeira na subida da Montanha Todtnauberg. Era seu retiro espiritual e onde escrevia seus livros. 




Sua grande obra - Ser e Tempo, que tem em seu âmago uma pergunta aparentemente simples: o que realmente significa o verbo "ser". O tempo e a existência humana estão inextricavelmente ligados. Nosso ser é o processo de "tornar-se", Rechaça a ideia de que haja algum tipo de essência humana fixa. O que vem em primeiro é a própria existência do homem. A existência é o ato de "expansão" pelo qual estamos projetando-nos constantemente para o futuro, sempre na expectativa, esperando coisas. 

A maioria das pessoas, principalmente as que vivem em cidades grandes, tende a perder o contato com a sua individualidade. forçados a conformarem-se com os padrões de comportamento das massas. Experimentamos fortes sentimentos de ansiedade o que nos leva ao que ele chama de "vidas inautênticas". A maioria vive "a vida da gente", Nós somos um - a gente faz isso, a gente pensa assim. Ele diz - o "eu" não é "a gente". E tudo isto nos anos 20 como uma premonição do que viria pela frente, antes do que temos atualmente com a vida e a morte padronizados. 

Em 1924 Hanah Arendt torna-se sua anula e envolvem amorosamente. Quando Hitler sobe ao poder esta relação há havia acabado. 

O documentário mostra bem todo o envolvimento de Heidegger com o nazismo, seu comportamento, sua influência sobre os estudantes. Hermann Staudinger, professor de química foi perseguido por Heidegger que fazia denúncias infundadas sobre ele para a polícia e para a Gestapo. Posteriormente ele recebeu o prêmio nobel. Mas o pior foi sua postura diante de Edmund Husserl que tanto fez por ele. Husserl era judeu e foi proibido de ter acesso as salas da Universidade. Heidegger assumiu a reitoria e poderia ter revogado esta ordem, mas não o fez, pelo contrário, a executou o que dilacerou por dentro Husserl. 

Ao final Heidegger acreditou que o nacional-socialismo era sua teoria na realidade, aproximava a vida rural, sem grandes avanços tecnológicos, e privilegiava a vida em comunidade. Seu anti-semitismo era algo arraigado na cultura alemã da época. Mas ele pensa que Hitler precisa de um guia, e quem mais além dele próprio? Ele sucumbiu à ilusão de que poderia desempenhar o papel de um rei filósofo. Virou um nazista fanático e megalomaníaco. 

Após o fim da Guerra ele se esconde durante um tempo e retorna para enfrentar a questão, mas desmente todas as acusações. Tentou o suicídio e foi internado por um tempo. Depois recolheu-se à sua cabana de madeira e voltou a se ocupar dos assuntos da mente. E novamente vai se sobressair. 

Não somos nós que falamos, mas é a língua que nos fala. Ela estrutura nosso mundo, estrutura nosso sentido de tempo, da identidade e das relações humanas, do amor, da violência. Novamente é o filosofo. 

Encontrara-se com Arendt que acaba por ajudá-lo divulgando sua obra nos Estados Unidos. Também será apoiado por Sartre. Volta a brilhar. 

Morreu em 1976. 

A questão é agora, diante de todos os documentos que foram encontrados se ele vai continuar sendo tão admirado. 




Participaram do documentário:

- Andrew Benjamin - Filósofo
- George Steiner - Escritor
- Thomas Sheehan - Filósofo
- Hans-Georg Gadamer - Filósofo
- Hugo Ott - Historiador
- Miguel de Beistegui - Filósofo
- Elizabeth Young-Bruehl - Biógrafa
- Richard Wolin - Historiador
- Raymond Klibansky - Filósofo
- Richard Rorty - Filósofo
- Tom Rockmore - Filósofo

Assista:

Parte 1: https://www.youtube.com/watch?v=ZtlUgz110eE
Parte 2: https://www.youtube.com/watch?v=LRPuinEcy6w
Parte 3: https://www.youtube.com/watch?v=WoFkymLgc6E
Parte 4: https://www.youtube.com/watch?v=Isxl5etMCvY
Parte 5: https://www.youtube.com/watch?v=jZi9kRNg--8

DOCUMENTÁRIO BBC: HUMANO DEMASIADO HUMANO - FRIEDRICH NIETZSCHE - ALÉM DO BEM E DO MAL - 1999



Documentário produzido pela BBC em 1999 dividido em 03 episódios e conta a história de três filósofos: Friedrich Nietzsche, Martin Heidegger e Jean-Paul Sartre.


I- Friedrich Nietzsche - Além do bem e do mal

Nietzsche é tão importante quanto Marx, Freud e Einstein na evolução do modo como as pessoas pensam no século XX e XXI. 

Com a entrada na modernidade há o que Nietzsche chama de a morte de Deus e com isto o enfraquecimento das certezas morais e intelectuais. O que é certo e o que é errado? o que é bem e o que é mal? A igreja era o árbitro da moral, a guardiã da verdade moral. Hoje não somos mais determinados por forças exteriores, a vida é algo para ser construído e somos responsáveis por isto. A filosofia de Nietzsche não é um guia para quem pensa como ele, mas sim é um guia para quem pensa por si mesmo. Ele nos incita a pensar. 

Nietzsche nasceu em 15 de outubro de 1844 em Röcken. Seu pai era pastor. No seu batizado o pai perguntou o que seria desta criança , o  bem ou o mal? Nietzsche tentará vencer esta dicotomia, relacionando o bem e o mal, para torná-los dependentes um do outro. 

Teve um infância feliz até 1847, quando estava com 05 anos e seu pai morreu. Um ano depois foi seu irmãozinho que morreu. Então ele se questiona: porque Deus punira seu pai com tanto sofrimento. Surgem as dúvidas sobre o cristianismo.

Após a morte de seu pai e irmão muda-se com a mãe e a irmã Elizabeth para Naumburg e foi enviado para o internato de Schülpforta de tradição em educação religiosa. Após estas perdas ele mudou muito, passou a buscar a solidão. 
Foi estudar teologia na Universidade de Bonn com a ideia de ser pastor. Em 1865 num domingo de Páscoa recusou-se a comungar. Neste ano abandonou sua vocação religiosa para estudar línguas como filólogo clássico. Em uma carta para sua irmã explica que há os que creem e os que buscam. 

Em 1869 foi nomeado professor de filologia clássica na Universidade de Basiléia. 

Havia se libertado das amarras do cristianismo e buscava algo para substituí-lo. Sem o cristianismo a dor e o sofrimento humano não fazia sentido (castigos pelos pecados). Procurou então na filosofia e encontrou em Schopenhauer, que é uma filosofia pessimista, Para escapar do sofrimento há a arte, principalmente a música diz Schopenhauer e Nietzsche encontra isto em Richard Wagner. Assistiu três vezes a ópera Tristão e Isolda e se identificou com o sofrimento deles. 

Wagner se torna um pai substituto. Na arte deste Nietzsche viu a possibilidade de um renascimento da ultura européia baseado no modelo grego clássico da tragédia. ("O nascimento da tragédia"). A música de Wagner representa o ideal pré-cristão simbolizado pelo deus grego Dionísio. A cultura dionisíaca era selvagemente enérgica, musical. Era associada à embriaguez, intoxicação, os excessos, a alegria e a mais absoluta insensibilidade à tristeza, à dor e à tragédia. 

Nietzsche sofria debilidades, era míope, contraiu sífilis apesar de nunca ter falado isto em público, aos 30 anos estava parcialmente inválido, sentia dores de cabeça fortíssimas, e ficava vários dias de cama. "Surpreendo-me o quão difícil representa viver". Sua enfermidade vai ser um ponto de mudança decisivo em sua vida. 

Em 1876 ocorre a inauguração do grande teatro de Wagner em Bayreuth. Nietzsche sai depois do primeiro ato sentindo náuseas, o que é simbólico e um sintoma físico que expressava um estado psicológico. A relação com Wagner fica tensa, ele não aceita o nacionalismo deste. Ele precisa de sua filosofia.

Deixei de ser pessimista nos piores anos de minha vida. O instinto de auto-reparação proibiu-me uma filosofia de pobreza e desalento. Afasta-se de Schopenhauer. 

O autodomínio e o autoconhecimento está no corpo. O cristianismo baniu o corpo da cultura. O físico e o psicológico tem relação com a nossa forma de pensar. A vontade de poder é o fazer-se a si próprio. 

Nietzsche libertou-se das tradições e das opiniões que não eram suas. Condena-se a uma solidão selvagem. Renuncia a seu lugar de professor na Universidade e muda-se para St. Moritz nos Alpes Suíços. Nos próximos dez anos viverá no verão nos Alpes e no inverno na Riviera francesa ou italiana. 

O super-homem é transcender-se a si mesmo, superar-se, buscar um novo caminho, mas dentro do que é humano. O Nazismo corrompeu isto por causa da irmão de Nietzsche, Elisabeth, que promovia o ideal ariano. Mas o super-homem de Nietzsche não é o homem superior, a raça superior. É o humano, a humanidade que está incluída nisto. 

Em 1888 vai viver em Turim na Itália. Em janeiro de 1889 sofre um colapso em uma rua de Turim. Foi para um sanatório e depois para a casa de sua mãe. É declarado louco e sua irmã cuida dele em Weimar. Morreu em 1900 de uma infecção pulmonar. 

Elisabeth controlou por 30 anos o legado literário do irmão e tentou promover falsamente o filósofo como um pensador nazista. 






 Já enfermo com sua irmã 

Participam do documentário:
- Ronald Hayman - Biógrafo de Nietzsche
- Leslie Chamberlain - Biógrafa de Nietzsche
- Andrea Bollinger - Arquivista
- Reg Hollingdale - Tradutor
- Will Self - Escritor
- Keith Ansell Pearson - Filosofo


Assista: https://www.youtube.com/watch?v=HNXdBFpi4Xg

LIVRO: HITLER A TIRANIA E A PSICANÁLISE - Ensaio sobre a destruição da civilização - JEAN-GÉRARD BURSZTEIN


Bursztein, Jean-Gérard. Companhia de Freud, 1998
Tradução: Dulce Duque Estrada
96 páginas
Título Original: Hitler, la tyrannie et la psychanalyse - Essai sur la destruction de la civilisation


Um livro muito interessante com a análise sobre o nazismo e Hitler pelo viés da psicanálise nos oferecendo uma resposta ao Por que? por que o povo alemão aderiu à Hitler? por que Hitler conseguiu fazer o que fez?

Bursztein parte do laço social, o que nos une aos outros, agrupando-nos através da cultura numa civilização. Pelo viés da psicanálise somos introduzidos na Lei pelo pai que interfere na relação fusional entre mãe e filho levando-o a se separar e desistir de seu desejo pela mãe voltando-se para o mundo, para outros, e fazendo desta falta seu desejo de se mover. É a aceitação inconsciente da diferença homem e mulher e da interdição do incesto. Recalcamos então o ódio ao pai, este que impõe a lei e o transformamos no pai simbólico, o que nos rege em nossos valores, princípios e moral.

Os judeus são um povo que não se referem à um país ou uma língua, mas sim à lei, a Torá, e por isto mesmo representam este pai. A Alemanha no pós Primeira Guerra estava deprimida, e Hitler encarna o ideal de eu que o povo busca, utiliza-se do mito nacional, do povo ariano, da cultura germânica resolvendo para todos o problema que enfrentavam, nada como um pai que vem socorrer e acaba com os outros que são a ameaça.

Quando se rompe o laço social, ou seja, a lei que une os seres humanos, instala-se o que Bursztein chama de psicose social. As pessoas passam a não se importar mais com o outro, e buscam um bode expiatório para ser o responsável por todos seus problemas.

Por outro lado, Hitler é um psicótico, delira, tem visões, megalomaníaco. Ele hipnotiza o povo, fala e eles aderem, e como a psicose social elimina toda e qualquer moral, não irão contra ele. Hitler está acima da lei, está foracluído, só faz o que quer, e tudo gira em torno dele. Não há mais a lei, a civilização, apenas ele e o povo alemão.

Obviamente não foram todos os alemães que aderiram, mas a grande maioria sim, o que permitiu o que aconteceu, por que Hitler sozinho não teria conseguido fazer o que fez. Só foi possível com o apoio do povo em seu ódio ao judeu.

O racismo é sempre um ódio ao diferente. Porém o judeu é um semelhante, ele é assimilado, integrado, e no caso da Alemanha, se consideravam alemães. O que faz a diferença aqui é o significante judeu, e o que ele diz, transformando então os judeus em diferentes.

O que ocorreu com o nazismo é que temos o mito como referência delirante ( o mito do povo ariano, puro, belo e perfeito), a cultura é reduzida à mitologia e o direito é uma ideologia delirante (Hitler acima da lei, fora da lei), e eis que o laço social se rompe. A civilização se reduz à mestria e emerge um tirano. Não há mais espírito crítico, identificação simbólica.

Ao contrário de uma civilização com laço social, onde o mito é uma referência nacional e possui significantes de referência simbólica, a cultura é um discurso (na realidade vários discursos), o direito é uma autoridade legítima e a civilização anda.

Um livro que vale a pena ser lido para melhor compreensão não só do nazismo, mas de todas as tiranias, e das perversões também.

Jean-Gérard Bursztein é um psicanalista francês e doutor em filosofia.

LIVRO: UN PÈRE - puzzle - SIBYLLE LACAN



Lacan, Sibylle. Gallimard, 1994
106 páginas

Não encontrei o livro em português, acredito que não esteja traduzido. Trata-se de Sibylle, a  filha do psicanalista Jacques Lacan, de seu primeiro casamento com Malou Blondin, com quem ele teve mais dois filhos, a primogênita Caroline e Thibaut. Ela era a terceira e nasceu quase que ao mesmo tempo da filha mais conhecida, Judith Miller, com Sylvia Bataille.

Ela não fala do Lacan psicanalista, da figura pública, mas sim, trata-se do resgate de um pai, falar do pai, fazer surgir de sua memória tudo que a marcou, e justamente por isto o subtítulo de puzzle, o quebra-cabeças que vai se montando aos poucos com os fragmentos das lembranças. Trata-se de falar do amor a um pai, quase ausente, mas ainda assim seu pai.

Apesar da distância e da tristeza disto, ela não perde seu bom humor e mantem seu desejo pela vida. Ela que foi concebida em um encontro de seus pais quando já separados, diz que não nasceu do desejo, mas que é a filha do desespero. Quando nasceu ela diz que sua mãe não se ocupou dela, ela não me havia desejado e ela estava vivendo sua dor pessoal. Somente por ocasião do casamento de sua irmã Caroline é que Sibylle fica sabendo da existência de uma irmã Judith e deseja conhecê-la, mas irá se desiludir, pois se sentirá esmagada por ela em seu primeiro encontro, ela tão perfeita, tão amável e ela tão diferente disto. Nunca se deram bem. Sibylle irá fazer uma depressão.

Aos poucos ela vai relembrando dos bons momentos que teve com seu pai, nos conta cenas hilárias, mas também cenas muito tristes, do abandono que ela sentiu por parte de seu pai e de sua certeza de que ele preferia Judith, ela odiará seu pai por um bom tempo, mas onde o ódio se instala há amor.

Nos últimos dois anos antes da morte de seu pai ela já não terá contato com ele, e nem será comunicada de sua situação de saúde, sendo avisada somente quando ele já está à morte. Seu reencontro final com ele será em uma visita ao seu túmulo onde ela lhe dirá: Querido papai, eu te amo. Você é meu pai, você sabe.


Sibylle Lacan nasceu em 1940 e faleceu em 2013.

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

DOCUMENTÁRIO: JACQUES LACAN - A PSICANÁLISE REINVENTADA - 2001



Escrito por Elisabeth Kapnist e Elisabeth Roudinesco
Título Original: Jacques Lacan: La psychanalyse réinventée
Duração: 62 min

Baseado no livro: Jacques Lacan: esboço de uma vida, história de um sistema de pensamento de Elisabeth Roudinesco. 

Documentário francês patrocinado pelo Ministério da Cultura da França

O documentário inicia-se com Lacan chegando para um conferência em Louvain em 1972. É composto por depoimentos de vários intelectuais e psicanalistas que participaram deste momento que eles chamaram de movimento inventivo (Pontalis) e de partes com Lacan falando.

Lacan fala do estado do espelho quando o bebê se espelha no outro, o que o leva a dizer que o moi (eu) é um resultado do outro.
Ele não se situa mais no universo clássico da representação, mas no universo da pintura moderna - como Picasso em relação à pintura clássica - onde as representações estão fraturadas, fragmentadas como um nariz que se move e não se encontra no centro do rosto, e também no do Barroco. É um Freud desmedido.

Jacques Lacan nasceu no dia 13 de abril de  1941 em Paris de uma família burguesa católica. Estudando Nietzsche e Spinosa ele rejeita o catolicismo. Dirá que o uso do uniforme da escola lhe trouxe a convicção intima de que os mais violentos machucados, marcas psíquicas surgem sempre do interior da coletividade submissa a maior normalidade.

Ele irá estudar psiquiatria e se interessa pela paranoia - psicose. Freud comparou a paranoia a um sistema filosófico (por ser uma loucura coerente) e Lacan fez dela um modo de razão lógica inscrito no coração da personalidade humana. Sua tese será sobre a paranoia - o caso Aimée.
A suposição do paranoico é que qual seja a desordem das aparências tem que ter em algum lugar um real escondido do qual ele está absolutamente certo e que lhe dá seu senso, sentido, a tudo que ocorre e este real é geralmente um complô ou um crime preparado contra ele. Lacan fala da paranoia como algo que esclarece a estrutura do desejo de conhecer. Quando queremos conhecer as coisas obscuras somos necessariamente paranoicos. E isto fascina Lacan.

1932 - Aimée agride uma artista comediante - ao atacar a artista ela atacou seu ideal de eu ao qual ela ela se identificava mais.
1933 - Irmãs Papin - atacam o ideal de mestre que tem em si. ( as irmãs assassinaram sua patroa e a filha desta).

Sobre esta loucura feminina Lacan dirá que é um teatro da crueldade surgido desde tempos imemoriais.

Em 1934 Lacan casa-se pela primeira vez. Tem três filhos: Caroline, Thibaut e Sibille. Três depois de casado apaixona-se por Sylvie Bataille que está separada, mas ainda casada oficialmente com George Bataille e com quem tem uma filha - Laurence, que irá se tornar uma psicanalista. Em 1941 nasce Judith, filha de Lacan com Sylvie. Ele se casará com ela após o fim da segunda guerra.

Os Seminários eram um movimento inventivo onde todos sentiam-se participando. Após a Segunda Guerra Lacan abandona os filósofos alemães como Hegel e se volta para a estrutura simbólica da subjetividade. Apoia-se em Claude Lévi-Strauss e Roman Jakobson para fazer do inconsciente uma cadeia de significantes.

O estudo de Lévi-Strauss - As estruturas elementares do parentesco - mostra que a interdição do incesto (uma ruptura, obediência à lei) faz a passagem da natureza para a cultura. O Incesto é algo que o ser humano deseja e por isto deve ser proibido, interdito. As relações de parentesco é estrutural - determina a estrutura simbólica da sociedade,através das regras que devem ser seguidas. Regras estas que atuam no inconsciente.

Lacan também se apoia nos linguístas, como Jakobson e Ferdinand de Saussure. Quando falamos mobilizamos numa ordem absolutamente aleatória estruturas, ou seja, diferenças (de fonemas, de palavras). Estas diferenças se articulam segundo uma lógica. A cura analítica exibe esta lógica. Esta cadeia de significantes não se fecha, como uma pulseira, ela explode o fecho, e se se fecha é sobre um termo ausente.

Foi em 1953 em Roma, cidade pela qual Lacan é apaixonado (interessante que Freud também tinha uma ligação muito forte com a Itália), que ele definiu os três termos maiores - Real - Simbólico e Imaginário.
No qual o S - Simbólico é o que nos determina pelas estruturas. O R - Real - é o que escapa a simbolização (as loucuras, as pulsões, o ilimitado) e o I - Imaginário que é o lugar das ilusões do eu, mas atenção, estas ilusões existem, vivemos num mundo de ilusão, de representações.
É o Real que suscita o Imaginário e o Simbólico.

No quarto episódio Lacan fala e diz que por um tempo acreditamos que os psicanalistas sabiam alguma coisa. Mas não é mais assim. O cúmulo dos cúmulos é que eles mesmos não acreditem mais, no que eles estão errados, porque justamente eles sabem um tanto. Só que exatamente como para o inconsciente na sua verdadeira definição, eles não sabem que o sabem.

Em 1950 Lacan cria o tempo lógico na análise o que irá criar muitas controvérsias. É o tempo variável na sessão de análise, que com o corte fará o paciente perder menos tempo pronunciando palavras vazias. O tempo de uma sessão desde Freud era estabelecido em torno de 50 min. Lacan fazia sessões que duravam poucos minutos.

Em uma de suas aparições no documentário Lacan diz: A transferência é o amor. Por que amamos um ser igual? e deixa a questão no ar.

No final da vida Lacan começa a falar cada vez menos. É como se estivesse no Real. Talvez o real da morte que se aproxima. Ele dirá a morte - é do domínio da fé. Ele faleceu em 09 de setembro de 1981.

Assistam aos episódios: O documentário é em francês. Abaixo o link para a versão em espanhol.

Parte 1: https://www.youtube.com/watch?v=ahuNN96G7jM

Parte 2: https://www.youtube.com/watch?v=h5seDIumGwQ

Parte 3: https://www.youtube.com/watch?v=ZYWf2nbF-wg

Parte 4: https://www.youtube.com/watch?v=kfmYy0kb5Ho

Parte 5: https://www.youtube.com/watch?v=ahuNN96G7jM

Versã Completa em Espanhol: https://www.youtube.com/watch?v=zh3VXO7j7-c

Participaram do documentário:

- Maria Belo - Psicanalista
- Jacques Derrida - Filosofo
- Christian Jambet - Filosofo
- Juliet Michell - Psicanalista
- Jean Bertrand Pontalis - Psicanalista
- Elisabeth Roudinesco - Historiadora.

Jacques Lacan